rumo à puna catamarquenha: caminho a antofagasta de la sierra

pense 250 km em 8 horas. primeiro porque o ônibus tinha que chegar em Villa Vil às 15h, parece, e desde que saiu de Belén às 13h foi meio que enrolando pelo caminho, a vinte por hora. depois porque chega em Villa Vil e espera chegar o outro ônibus e tira bagagem de um, espera transferir todas as encomendas, põe bagagem de todo mundo, sobe todo mundo etc etc.

nessa brincadeira já eram 16h. a vista linda, veja bem. na saída de Belén voltando pela ruta 40 ao fundo bem ao fundo se via umas montanhas com algo que parecia neve, mas curiosamente não me convencia. depois eu descobriria que provavelmente era areia. porque a neve brilha e aquilo não brilhava.

depois da troca de ônibus vem um caminho de terra estreito e em subida, que é pro ônibus sofrer bastante e levantar poeira. de aí em diante eu poderia tirar uma foto a cada cinco minutos, mas o vidro estava sujo e a câmera de verdade metida no fundo da mochila. registrei alguma coisa com o celular que é pra vocês acreditarem um pouco em mim. e também mil paradas pelo caminho, e quando o motorista dizia treinta minutos! eu pensava no me puedo creer e me encostava no banco pra continuar lendo meu livrinho do Mempo Giardinelli sobre a Patagônia. (e tanto combinavam as descrições dos desertos patagônicos com essa imensidão da pré-puna de Catamarca.) porque aí vem a puna. a puna é um troço sem fim, uns morros muito lisos e multicoloridos por efeito de cinzas vulcânicas. pré-cordilheira de um lado, mais pré-cordilheira do outro, a vaga ideia de que mais alguns quilômetros atrás de tudo isso está o Chile e o oceano Pacífico. a puna é uma espécie de sonho, de delírio, de não acreditar que aquilo possa ser de verdade.

pela estrada um desvio ao micro-povoado de Laguna Blanca, passando pela dita cuja, que estava meio vazia e sem flamingos. ainda assim a paisagem é pra matar. quando desci do ônibus senti já a mudança do clima: vinha um ventinho frio. já estávamos a mais de 2 mil metros de altitude.

depois o ônibus começa a subir mais ainda pela cuesta de Randolfo que segundo meu guia da Argentina é um caminho que alcança os 4800 m de altitude, a paisagem começa a ser tomada pela areia, areia, areia por todos os lados. aí que eu tive certeza que aquela neve que não parecia neve na distância no começo do caminho devia mesmo ser areia.

em um momento há um altarzinho à difunta Correa e o ônibus para, desce o cobrador e outra moça e o motorista me diz que se eu quiser posso descer pra tirar fotos. aproveitei pra deixar uma pedrinha na apacheta e dizer que che, gracias, pachamama.

isso já começa a querer se esconder o sol, e o ônibus subindo subindo subindo sem parar. pensei que aí se vai o sol pelo Pacífico enquanto ele se punha atrás de miles de montanhas em vários cordões paralelos à oeste do caminho. adiante uma cadeia de montanhas negras e cheias de pontas com o céu vermelho e roxo atrás delas.

foi-se o sol e continuou iluminando por mais quase uma hora até que a meia-lua tomasse conta do céu e do caminho só fosse possível distinguir alguns contornos. desde o começo da subida que era pista asfaltada, embora com algumas falhas. eram oito da noite quando surgiram umas luzes de povoado: El Peñon. o motorista vai tocando a buzina na entrada que é pra avisar ou perturbar (não tive certeza). meteu-se por uma rua e mais uma parada: diez minutos! mais um pouco do meu livrinho. dei um pulo pra fora pra sentir o frio da puna e na verdade não achei grande coisa (já estava com o agasalho). a pista vai se esfarelando na chegada a Antofagasta. outra vez o motorista mete a mão na buzina pra anunciar sua chegada. pergunto pela igreja e a hospedagem de Adrian e ele diz que para longe, a uma quadra. (longe: tem que andar uma quadra.) no fim não tive que andar nada. Adrian me esperava com a caminhoneta e me levou até o hostel, que é uma casinha com dois quartos, com dois beliches cada, um banheiro e uma sala-cozinha. como só tinha eu hospedada ali, era uma casinha só pra mim. Adrian ainda me levou até a despensa mais próxima pra comprar qualquer coisa pra comer pela manhã e eu já senti aquela tonturazinha curiosa da altitude; Antofagasta está a 3300 metros de altitude, mais ou menos. dá pra ficar um pouco sem ar. e claro que não tinha wifi.

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