essas coisas que ainda não posso não quero não devo publicar. ainda querer ser; alguma coisa. ou por pensar que é necessário ser. nada é necessário coisa nenhuma. que fácil voltar ao buraco, esse espaço escuro e aconchegante e — com pouco ar é verdade, quem precisa de ar hoje em dia; que fácil sentir essa tristeza que se agarra feito qualquer líquido denso e negro e pegajoso, tão horrivelmente pegajoso. quantas vezes debaixo d’água para que ele desapareça por inteiro? e a literatura? bom dia; está ouvindo? esse silêncio. é o legado da literatura. porque crescer é sentir um mundo que fica menor, cada vez menor e mais claro, mais óbvio, mais previsível. crescer é também saber que há sempre algo maior, algo que não se pode alcançar, jamais. algo que não se pode sequer imaginar. crescer é talvez habitar esse espaço incômodo e solitário em que as vozes estão todas distantes e confusas. é ver demasiado e sentir-se pequeno por saber que jamais verá o suficiente. saber demais com a certeza de que. entende o que estou dizendo? entende que não há outra maneira de dizê-lo? são as palavras: tudo que eu tenho. tudo que pode ainda restar, se restar algo. as palavras gritam em silêncio. é o que resta.