notas de um passeio por Montevidéu

:: o tamanho das casas que constroem esses periquitos meu deos. :: os uruguaios de boina e colete e el termo debaixo do braço, o mesmo braço cuja mão leva o mate (procurar comercial indicado pelo Pepe sobre as coisas que o uruguaio sabe fazer só com uma das mãos), que é porque são uns bichos muito práticos e sempre têm livre a outra mão (senão para despejar mais água no mate, meter a garrafa debaixo do braço e passar o mate ao amigo que caminha ao lado). a pergunta que não cala como encontram esse encaixa ideal que a garrafa não escorrega por esse tecido grosso e liso da jaqueta sintética, as muitas camadas de roupa que impedem a sensibilidade da força necessária para manter el termo no lugar. :: passarinho gordo que se aproxima insuspeitamente e não se incomoda que eu me mova para vê-lo melhor inclusive passa por baixo das minhas pernas com se um portal na direção do sol. desajeitado ainda as patas que grudam nas folhas secas a palha das palmeiras feito esses adolescentes com pouca desenvoltura corporal que aos tropeços morrem de vergonha de passar na frente dos grupos de colegas (mas esse o passarinho gordo rei de seu território solitário inspecionando o gramado). :: esse frio gelado que substitui instantaneamente o calor do sol quando uma nuvem cirrostratus metida a altostratus inconveniente bloqueia sutilmente a luz. :: o problema da cirrostratus é esse potencial para a dispersão e domínio dos céus. :: a pomba é que não é um bicho nada sutil. :: essas árvores desfolhadas como se esquecidas abandonadas há séculos, tão imóveis, tão estáticas (de onde essa ideia de que a imobilidade pode ser mais gritando, mais imóvel, mais eterna, quanto mais tempo o esquecimento e o abandono daquele que não pode se mover sozinho). :: um passarinho (aquele o passarinho gordo) que sobe na mesa do parque, solta um piu a menos de meio metro da minha cara e vira-se para caminhar até o outro lado, disfarçando e te encarando meio de lado, meio desconfiado. na ponta da mesa outro piu e ele salta de volta ao chão para retornar sua busca pelas sementes que o vento trouxe.

blog

página inicial